Cerro Santa Lucía
Bem próximo ao charmoso e gastronômico bairro Lastarria está o cerro Santa Lucía, um oásis em meio a agitação do centro da cidade.
Um pouco da história
Os mapuches – um dos principais povos originários do Chile – o chamavam de Huelén, que significa dor ou tristeza no idioma mapudungún dos indígenas. O cerro [morro] era um lugar sagrado para eles e também era um mirante, de onde eles tinham uma vista panorâmica de toda a cidade. Ao lado do cerro passava um braço do rio Mapocho – onde hoje é a avenida Alameda – a terra ali era fértil para o cultivo e a criação de gado, e ali os mapuche escolheram para se assentar. Quando os espanhóis chegaram ao Chile, o colonizador Pedro de Valdivia tomou o cerro dos índios, mudou o seu nome para Santa Lucía e aos seus pés fundou a cidade de Santiago, em 12 de fevereiro de 1541. Valdivia se deu conta da sabedoria dos mapuche, que já traziam dos incas um legado importante: a cultura da água, dos canais de regadio e da agropecuária.
O colonizador ficou tão satisfeito com o seu achado que escreveu uma carta ao rei Carlos V, onde ele dizia não existir outro lugar melhor no mundo para se viver, que o Chile parecia ter sido criado por Deus para que tudo estivesse ao alcance das mãos. Mas os registros contam que não foi nada fácil para os espanhóis, grande parte do povo mapuche resistiu e lutou contra a colonização durante quase 200 anos e nas violentas batalhas entre eles, muito sangue foi derramado. Ainda hoje, os mapuche lutam para manter as suas origens, a sua cultura e o seu direito legítimo à terra.
Com o correr do tempo foi surgindo el pueblo chileno – uma mescla genética e cultural de três raças: índios, europeus e africanos. Durante os quase 300 anos em que o Chile foi uma colônia espanhola, o cerro Santa Lucía manteve as suas características naturais, mas entre os anos de 1814 e 1817 ele foi usado como um mirante e fortaleza da coroa. Uma parte do povo chileno também resistiu e lutou contra as ordens vindas do rei e muitas batalhas ocorreram ao redor do cerro e em outras regiões do país, até que em 1818 finalmente o Chile conquistou a sua independência.
Depois da Independência
No final do século XIX, em comemoração ao Centenário da Independência da República, um projeto de melhorias urbanas incluiu a remodelação do Santa Lucía e o cerro foi transformado em um parque. Com a remodelação o cerro ganhou uma capela, várias praças, jardins e fontes de água. Entre os anos de 1840 e 1862 funcionou o primeiro observatório astronômico do Chile, que depois foi transferido para o parque Quinta Normal, também em Santiago. Em 1902 foi construída a entrada principal do parque e elementos da arquitetura neoclássica se incorporaram. Em 1971, um imenso mural de cerâmica foi instalado, a artista homenageada foi a poetisa Gabriela Mistral. Em 1983, o cerro Santa Lucía foi declarado Monumento Nacional por sua importância histórica e patrimonial.
Um oásis no centro de Santiago
O cerro se transformou em um parque urbano. Eventos gastronômicos e culturais são realizados nos dois principais balcões do Santa Lucía. Logo na entrada funciona uma feira de artesanato mapuche, e do alto da sua torre principal se pode contemplar todo o centro histórico e o seu entorno. Moradores e turistas aproveitam para se refrescar entre as suas veredas arborizadas, que fazem do parque um oásis em meio a agitação da cidade.
Palacio La Moneda
Sede do governo do Chile e onde acontece a tradicional cerimônia de troca de guarda, desde o ano de 1851. A troca de guarda é o momento em que a guarda presidencial, que estava ativa dentro do Palácio, se retira para dar lugar à guarda que estava descansando. – declarado Monumento Nacional em 1951
Um pouco da história
Voltando ao ano de 1732 – ainda no período em que o Chile era colônia dos espanhóis – o cabildo de Santiago fez um pedido ao rei da Espanha: a construção de uma Casa da Moeda na cidade. Como a Coroa não tinha o dinheiro disponível, a obra foi realizada por um rico comerciante espanhol, chamado Francisco García Huidobro. García comprou um imóvel, muito próximo de onde hoje é a sede do Palácio, e ali foi gravada a primeira moeda chilena com a imagem do rei Fernando VI, no ano de 1749.
A construção da primeira versão do Palácio começou no ano de 1784. O arquiteto responsável foi o italiano Joaquín Toesca, que escolheu para a sua imponente obra as areias do rio Maipo, as pedras coloridas do Cerro San Cristóbal, as pedras brancas do Cerro Blanco e a madeira de carvalho e ciprestes dos bosques do sul do país. A serralheria veio da Espanha, e para os maciços muros de mais de um metro de espessura foram usados vinte tipos diferentes de tijolos, todos feitos em Santiago.
O estilo arquitetônico do Palácio é neoclássico, e a obra é um grande volume horizontal. Por sua composição reta, transmite força e estabilidade; já na sua parte interna, o maciço dá lugar a vários pátios, jardins e fontes de luz.
Mas foi só no ano de 1846 que a grande obra de Toesca passou a ser a sede do governo, e até o ano de 1922 as moedas continuaram a ser acuñadas no Palácio.
O La Moneda já passou por várias remodelações. A última e mais significativa foi concluída em 1981, depois de o Palácio ter sido destruído durante o golpe militar, no ano de 1973. Felizmente, o conceito original da obra de Joaquín Toesca foi mantido.
A troca de guarda
Uma tradicional cerimônia que acontece desde o ano de 1851. É o momento em que a guarda presidencial, que estava ativa dentro do Palácio, se retira para dar lugar à guarda que estava descansando. A cerimônia se realiza com um desfile das duas guardas [a que entra e a que sai] acompanhadas por um desfile da guarda montada e por uma banda musical composta pelos “carabineros”. Para a surpresa e alegria dos turistas brasileiros que acompanham a cerimônia, eventualmente a banda toca músicas como a Aquarela do Brasil, em homenagem ao nosso país.
. Quando: a cada dois dias. Mas saiba que, quando o Palácio recebe uma visita oficial, a cerimônia é cancelada ou o seu horário é alterado, sem aviso prévio.
. Onde: o desfile começa na Plaza de la Ciudadania, de onde se vê a grande bandeira do Chile, e segue em direção à Plaza de la Constitución, que fica de frente à entrada principal do Palácio, onde a cerimônia é realizada.
. Horário: durante a semana, às 10 horas da manhã. Sábados e domingos, às 11 horas da manhã.
A grande bandeira
A grande bandeira foi confeccionada em homenagem ao Bicentenário da independência do Chile e foi içada pela primeira vez no ano de 2010, pelas mãos de crianças de todo o país. Fabricada em nylon, os seus números impressionam: ela tem 27 metros de comprimento por 18 metros de largura e pesa 200 quilos. A sua estrela única de cinco pontas simboliza os poderes do Estado, e as suas cores – branco, azul e vermelho – representam a neve, o céu e o mar e o sangue derramado nas batalhas.
O que está por baixo do La Moneda
A linha 1 do metrô, a mais antiga do Chile, inaugurada no ano de 1975. Ela liga as estações de San Pablo a Los Dominicos, passando por Tobalaba, a estação do agitado bairro de Providencia. A linha 1 tem uma extensão de 20,4 quilômetros e um total de 27 estações, e a maior parte do seu trajeto é subterrâneo. O que não se vê da superfície também é o Centro Cultural La Moneda, inaugurado no ano de 2006, com o propósito de levar arte, cultura e lazer aos moradores da cidade e aos turistas nacionais e estrangeiros. O calendário do Centro oferece atividades para o ano todo, com exposições e oficinas, e muitas delas são gratuitas. O Centro Cultural também conta com um cinema, lojas de produtos nacionais, um restaurante de culinária chilena e dois cafés. Vale a visita em um dia livre do seu roteiro.
Centro Cultural Gabriela Mistral
Ou simplesmente GAM, é um complexo cultural com mais de 22.000 metros quadrados, com salas para espetáculos e seminários, estúdio de gravação, biblioteca, restaurante, cafeteria, lojas e um grande espaço ao ar livre para encontros culturais ou acadêmicos, públicos e privados. O prédio que se encontra ao lado também faz parte do complexo e atualmente é a sede do Ministério de Bienes Nacionales.
Um pouco de história
A construção da primeira versão do complexo começou no ano de 1971, com o objetivo de receber a Terceira Conferência Mundial de Comércio e Desenvolvimento, marcada para o ano seguinte, em 1972. Salvador Allende, o então presidente da época, convocou milhares de voluntários de todo o país para a sua construção, que foi finalizada em tempo recorde de apenas 275 dias. Realizada a Conferência, Allende transferiu o Centro para o Ministério da Educação, que o batizou de Centro Cultural Metropolitano Gabriela Mistral, em homenagem à poeta chilena.
Com o golpe militar liderado por Augusto Pinochet em 1973, o Palácio La Moneda – a então sede do Governo – foi parcialmente destruído e foi transferido, junto com o Ministério da Defesa, para o Centro Cultural. Com o final da ditadura no ano de 1990, o complexo deixou de sediar o governo de Pinochet e passou a ser utilizado como um centro de conferências públicas e privadas.
O incêndio
Em março de 2006, um violento incêndio destruiu grande parte do complexo. Logo após o incêndio, foi criado um Comitê – durante o governo da presidenta Michelle Bachelet – com o objetivo de se definir o destino do imóvel. Quatro anos mais tarde, em dezembro de 2010, o espaço foi reinaugurado com o nome de Centro Cultural Gabriela Mistral e, nos seus dois primeiros anos de funcionamento, recebeu a visita de mais de um milhão de pessoas.
Santiago a Mil
Todos os anos no mês de janeiro, desde 1994 – com exceção dos anos em que o Centro ficou fechado por conta do incêndio – o GAM é palco do festival internacional Santiago a Mil. O festival é organizado pela fundação Teatro a Mil, uma instituição sem fins lucrativos que tem como principal missão levar as artes cênicas para todo o Chile por um valor acessível.
Plaza de Armas
Agitada. Multicultural. Transversal. A linha 5 do metrô passa por baixo da Plaza de Armas e faz conexão com a linha 3, levando milhares de pessoas para os seus milhares de destinos.
Um pouco de história
Geograficamente, a Plaza de Armas é o ponto zero da cidade de Santiago. Historicamente, ela também é o marco zero: a praça foi o lugar escolhido pelo colonizador espanhol Pedro de Valdivia para fundar Santiago, em 1541. Na época da sua fundação, a praça serviu de campo de treinamento militar e centro estratégico do exército de Valdivia, com o objetivo de colonizar as outras regiões do Chile. Com o passar do tempo, a praça se transformou em um núcleo administrativo e deu espaço para a vida social colonial. A primeira Catedral de Santiago foi construída em 1566, assim como o comércio local, chamado de “recovas”. A praça também foi um dos campos de batalha entre os espanhóis e os mapuche. Os mapuche, um dos povos originários do Chile, lutaram e resistiram à colonização, e muito sangue foi derramado durante os mais de 200 anos de conflitos.
Um grande mosaico
A maior parte dos edifícios patrimoniais que rodeiam a praça foram construídos nos séculos XVIII e XIX, como a Catedral Metropolitana de Santiago (reconstruída em 1775), a Prefeitura de Santiago, o Correio Central e o Museu Histórico Nacional, entre outros. Entre os anos de 1860 e 2000, a praça passou por algumas grandes remodelações e ganhou um estilo europeu com os seus jardins, pequenos bosques, pérgulas e estátuas. Os seus edifícios ao redor, o seu comércio, os seus artistas, músicos e pintores, os seus idiomas, sabores e cheiros formam um grande mosaico que retrata o seu processo histórico e a sua rica diversidade cultural.
A cápsula escondida
Em homenagem ao Bicentenário da Independência do Chile, em setembro de 2010, uma cápsula com estrutura de aço inoxidável e pesando 200 quilos foi enterrada na praça. Na cápsula estão guardados 132 objetos que preservam uma parte da história do Chile. Entre os objetos estão: selos, uma nota de 20 mil pesos chilenos, um pedaço de rocha da mina de San José e o áudio dos mineiros – que ficaram soterrados nessa mina – quando conseguiram entrar em contato com o exterior pela primeira vez, a gravação de um vídeo dos povos originários e mensagens nos idiomas aimara, quechua e mapudungun, um livro com o censo da população, realizada no mesmo ano, e sementes de espécies nativas chilenas. A cápsula também contém objetos que foram escolhidos pelo povo chileno por meio de votação, entre eles um cartão BIP do metrô, camisetas de equipes de futebol e uma foto do terremoto que balançou o país no mesmo ano do Bicentenário. Guarda mais de 240 receitas de comidas e bebidas e 7 mil mensagens entre vídeos e cartas mostrando como vivem, o que sentem e quais são os sonhos do povo chileno. Todos esses objetos foram escolhidos como um presente para as gerações futuras. A cápsula ficará enterrada por 100 anos e será aberta em 2110, no aniversário de 300 anos da Independência do Chile.
A praça de hoje
Agitada. Multicultural. Transversal. A linha 5 do metrô passa por baixo da praça e faz conexão com a linha 3, levando milhares de pessoas para os seus milhares de destinos. Em 2019, a praça ganhou um novo boulevard gastronômico e um imenso letreiro com a abreviação do nome da cidade: STGO. O letreiro se tornou um ponto de parada para os turistas e visitantes tirarem fotos. A praça é passagem para quem vai até Patronato – bairro de compras por atacado – ou para quem vai até a Vega Central e o Mercado Tirso Molina, dois gigantes que abastecem os mercados menores e as feiras abertas. Também é caminho para quem quer chegar até o Mercado Central, tradicionalmente conhecido por sua diversidade em pratos preparados com frutos do mar e peixes.
Bairro Lastarria
Um bairro pequeno e muito charmoso, as suas ruas e calçadas ganham vida com o movimento de artistas e artesãos que oferecem os seus produtos hechos a mano.
Um pouco da história
Durante a segunda metade do século XIX, a cidade de Santiago passou por uma fase de modernização e expansão, com o nascimento de novos bairros e a renovação e criação de praças, parques e jardins. Entre os bairros que nasceram neste período está Lastarria, onde algumas poucas famílias foram viver em torno à paróquia de Vera Cruz, inaugurada no ano de 1857. A paróquia foi construída no mesmo terreno onde supostamente viveu Pedro de Valdivia – o colonizador espanhol que fundou a cidade de Santiago no ano de 1541. A ideia de construir a paróquia naquele terreno em particular, foi um gesto para estreitar os laços entre os dois países e dignificar a figura de Valdivia.
O bairro foi só se desenvolver depois da remodelação do cerro Santa Lucía, da criação do parque Forestal e do museu de Bellas Artes. Personagens como Pedro Aguirre Cerda, presidente do Chile entre os anos de 1938 e 1941, e o escritor José Victorino Lastarria, foram alguns dos moradores ilustres do bairro. Em 1997, o bairro foi declarado como Zona Típica por sua fascinante e rica arquitetura e por seus monumentos históricos, entre eles a paróquia de Vera Cruz e o museu de Bellas Artes.
A renovação
Entre os anos 2000 e 2001, Lastarria e o seu entorno foram renovados: fachadas foram restauradas e velhos edifícios foram recuperados. Um calçadão foi criado, onde uma feira de antiguidades e livros se instalou; o cerro Santa Lucía, que está ao lado, ganhou novos postes de luz, e as ruas próximas, ganharam novas calçadas. Todas estas melhorias foram feitas para atrair mais visitantes e turistas ao bairro, considerado um dos mais boêmios da cidade.
Gastronomia, cultura e arte
Diferentes cozinhas convivem em harmonia para satisfazer à todos os gostos; antigos e novos restaurantes oferecem o melhor da comida chilena e internacional. Bocanáriz é a vitrine do vinho chileno, com uma das cartas mais extensas e premiadas, além de oferecer um menu com mais de 40 pratos. A diversidade culinária no bairro é grande: pizzas, carnes, sanduiches, empanadas, crepes e picoteos; a carta dos líquidos também é bem variada: vinhos, cervejas, piscos, destilados, coquetéis chilenos e do mundo. O Empório La Rosa é a vitrine do sorvete, está posicionada entre as 25 melhores sorveterias do mundo, com sabores de variadas frutas, combinações inusitadas, opções sem lactose e veganas, além do famoso sabor de pétalas de rosa.
O boêmio Lastarria é um bairro pequeno e muito charmoso, as suas ruas e calçadas ganham vida com o movimento de artistas e artesãos que oferecem os seus produtos hechos a mano. Lojas de designer chileno, de roupas e acessórios, lojas de discos, livros e cafeterias são os outros atrativos do bairro. Lastarria também transborda cultura com apresentações de artistas de rua, com os seus museus, galerias de arte, teatros e cinemas.