Das uvas que chegaram no Chile durante a segunda metade do século XIX, uma das poucas não francesas foi a riesling. Ela é amplamente cultivada na Alsácia, França, mas o lugar de origem desta variedade aromática está na Alemanha, onde os vinhedos plantados nos arredores dos rios Reno e Mosela desenham uma das mais belas paisagens do mundo.
Suas parreiras têm uma casca bem dura, o que permite resistir aos intensos frios dos invernos europeus e aos invernos do Canadá, onde ela dá origem aos afamados vinhos ice wines [vinhos doces elaborados com uvas congeladas]. Seus cachos são pequenos, compactos e de forma cilíndrica, com grãos de cor verde que se tornam dourados quando amadurecem. É uma uva propensa a desenvolver um tipo de fungo e por isso ela é usada na elaboração de vinhos doces com Botrytis, o fungo da podridão nobre.
A uva riesling também se adaptou muito bem as condições favoráveis de climas e solos do Novo Mundo. Ela é cultivada na Austrália e Nova Zelandia. No Chile ela encontrou as condições ideais em setores mais frescos e próximos da costa do oceano Pacífico. Os vinhos que são produzidos nos vales de Leyda e Lo Abarca são especialmente atrativos. Também os que são elaborados no vale de Biobío, onde as condições são as mais parecidas com as que existem nos lugares de origem da riesling.
A riesling é considerada uma uva fina e capaz de interpretar como poucas o território onde está plantada, sem perder a sua essência. Além de ser uma uva com potencial de produzir vinhos de longa guarda, graças a sua intensa acidez. Ela também é especialmente apreciada pela capacidade de evoluir na garrafa.
A garrafa charmosa com uma etiqueta dourada de borboleta foi um “regalo” da minha sogra Irma. É um late harvest [vinho doce de colheita tardia] de 2008 e uma linda cor âmbar, da vinha San Pedro. Ela guardou essa pequena joia por muitos anos em um quartinho, junto com outras garrafas, esquecidas e empoeiradas, que ela também me presenteou. Gosto de pensar que elas estavam ali, me esperando. Não vou abrir nenhuma, elas têm um lugarzinho especial aqui em casa.
Na contra etiqueta tem, além das informações obrigatórias por lei, um texto lúdico que traduzi para o português: “Se você quer que todos os seus desejos se tornem realidade, abra essa garrafa com alguém que está a ponto de sair de viagem. Pense em um desejo e conte baixinho no ouvido dessa pessoa. Ela levará o seu desejo a um lugar distante para que ele possa ser concedido. Este é o ritual da borboleta, um símbolo da liberdade de pensamento e de desejos que se tornam realidade.”
Me encanta os vinhos com etiquetas criativas, que nos levam a fantasiar! E você, tem um riesling especial para abrir hoje?
Fontes: Vinos de Chile, de Harriet Nahrwold e nas minhas andanças por Talca, onde mora a minha sogra.