A “rica” experiência da colheita de uvas no Chile

Estamos no período mais “rico” do ano aqui no Chile com a colheita das uvas, que se estende pelos vales de plantações do norte ao sul do país. A vendimia [como é chamada a colheita] começa com as uvas brancas no mês de fevereiro e segue até maio com a colheita das uvas tintas. E entre fevereiro e maio, cada vale de plantação organiza uma festa para celebrar a boa colheita e apresentar as suas joias. As vinhas também preparam atividades especiais para que os apaixonados por vinho participem, e não só das degustações e sim de todo o processo, da terra até o momento da elaboração dos vinhos.

No sábado passado a @vinaterosderaiz preparou uma dessas atividades especiais e eu tive a alegria de vivenciar! A tarefa para o nosso pequeno grupo de “vinhateiros por um dia” era fazer a colheita de 400 plantas da uva touriga nacional, depois, levá-las para a adega de vinificação. A touriga nacional é uma variedade de origem portuguesa, da região do Douro, e no Chile a touriga nacional é uma raridade, apenas quatro vinhas produzem vinhos com essa uva.

A Viñateros de Raíz brotou da parceria entre o enólogo Sergio Hormazábal e a paisagista Macarena Guzmán, que decidiram cultivar juntos uma vinha-jardim no quintal da casa onde moram com os seus dois filhos e quatro cachorros. O conceito de vinha-jardim reflete no cultivo sustentável de um vinhedo de menos de meia hectare onde estão plantadas duas uvas tintas: touriga nacional e cabernet sauvignon. Localizada na comuna de Melipilla, que faz parte do prestigiado e caloroso Vale de Maipo, o desafio de Maca e Sergio é dar vida a vinhos com sentido de lugar e que representem a sua origem. Todas as etapas do processo de elaboração dos vinhos, desde o trabalho no campo, passando pela colheita e vinificação, até a divulgação e venda, são realizadas pelas mãos dessa família vinhateira, de raiz e coração!

Antes de começar a “entretenida” atividade, Sergio e Maca apresentaram o seu projeto de vinha-jardim e nos deram uma aula de cultivo sustentável e sobre as condições únicas de clima e solo onde as uvas estão plantadas. Depois, passamos por um “portal mágico” e chegamos até as parreiras, que nos esperavam prontas para serem colhidas. Preparados com tesouras e luvas o nosso grupo colocou a “mão na uva”, e em menos de duas horas colhemos 402 quilos! E olha que só colhemos os cachos mais bonitos e saudáveis, porque com o calor que fez durante todo o período de amadurecimento algumas uvas já estavam virando passas. Essas deixamos como adubo para a terra.

Depois de encher 32 caixas de uvas no calor típico do Vale de Maipo, comemoramos todos juntos debaixo da sombra de uma árvore. Dali fomos para um “rico” almoço na beira da piscina, preparado pela família e servido pelo pai da Maca, um senhor “muy buena onda”. Aliás, essa simpatia toda é de família! E entre uma empanada e outras “cositas ricas”, Sergio apresentou os três vinhos elaborados com a marca #vinaterosderaiz: Jardinero, uma mescla de cabernet sauvignon, syrah e malbec. Aureo, 100% syrah. E Ambar, um vinho doce fortificado de garnacha, feito em parceria com @lavinadelsenor, uma vinha amiga.

Comemos, conversamos, rimos e bebemos, claro! Essa é uma das delícias de se fazer vinhos, é um trabalho que se permite beber, rs. Dali fomos levados até a pequena e valiosa adega subterrânea, um sonho de adega, e onde estão guardados os vinhos elaborados pela família e também os que eles trazem de suas viagens. Olhando atentamente cada uma das garrafas, encontrei uma joia brasileira, um espumante chamado Lírica Crua, do lado de uma mexicana e uma francesa. E ali, entre tantas garrafas e histórias, provamos o premiado Ambar.

Depois seguimos para a próxima etapa: a moagem da uva. A Viñateros de Raíz não tem uma adega própria, então fomos para a La Viña del Señor, que é perto, também em Melipilla. Lá as uvas foram pesadas e em seguida foram para a desengaçadora, uma máquina que separa os talos dos grãos. E magicamente vimos um suco espesso saindo pela mangueira, tingindo um grande recipiente branco. Em poucos minutos as caixas se esvaziaram e litros e litros de suco encheram o recipiente até a metade. Naquele momento, terminava a nossa parte nessa bonita experiência e começava a vez das leveduras fazerem o seu valioso trabalho: transformar aquele denso e doce suco em vinho. Um processo, que segundo Sergio, leva pouco mais de dez dias. A próxima etapa é levar o vinho para as barricas de madeira onde ele vai descansar por um período de um ano, e só depois desse longo tempo, finalmente vai colorir as nossas tacinhas!

Para finalizar a experiência, provamos direto das barricas o vinho elaborado com as colheitas de 2021 e 2022. Um vinho que ainda não chegou nas garrafas, mas já é uma joia de touriga nacional! E ganhamos da Maca e Sergio uma garrafa de Jardinero, da colheita 2022 [outra joia], além do agradecimento de toda a família!

Essa foi a primeira vez que participei da vendimia na Viñateros de Raíz, e foi lindo ter feito parte de todo o processo, desde a colheita das uvas até ver aquela mangueira jorrando um futuro vinho! Um vinho que tem as minhas mãos e as minhas emoções! No ano que vem quero vivenciar tudo de novo e ainda provar o resultado dessa colheita 2023 tão especial. Ah, e já deixo o meu convite para você: vem viver essa experiência linda da colheita das uvas com a gente!

E se você já está aqui no Chile, confere o calendário das festas de vendimia 2023 nos meses de março, abril e maio. Um panorama imperdível para quem #amavinho!


Bete Veingartner | Nas andanças @feriasnochile desde 2015

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