Demorei um pouco, mas aqui estou para compartilhar com vocês minha breve e intensa experiência na vinha Concha y Toro. Foram 40 e poucos dias, entre os meses de fevereiro e março, dias de muito aprendizado, trabalho em equipe e superação.
Entre o português e o espanhol realizei mais de 100 tours, o que foi um desafio para mim. Até então eu só tinha atendido brasileiros no conforto do meu idioma. Bem, saí da minha zona de conforto e levei para passear pelos jardins da casa, plantações e adegas de Melchor de Concha y Toro e Emiliana Subercaseaux em torno de 1.200 visitantes de diversas partes do mundo: Chile, Venezuela, Panamá, México, Estados Unidos, Colômbia, Peru, Argentina, Austrália, El Salvador, França, Inglaterra, Equador, China e, claro, Brasil! Visitantes de alguns países vizinhos e de outros tão distantes, mas todos nós ali juntos e misturados pela paixão em torno do vinho.
De taça em taça eu servi aproximadamente 3.600 pequenas doses de vinhos, e com o passar dos dias fui me soltando e foi ficando mais divertido. Enquanto falava das origens e das notas boas de cada rótulo, eu via encantamento nos olhos de alguns, o que foi muito gratificante. Respondi muitas perguntas e, feliz, me dei conta de que meus estudos dos últimos dois anos valeram! Recebi “propinas” [gorjetas], agradecimentos e até convite para dar curso no Brasil. Adorei a ideia, quem sabe um dia.
Foram muitas boas e novas experiências, e duas me marcaram. Uma delas foi divertida: na minha frente, um grupo de uns quinze turistas chineses me olhavam atentos esperando as palavras saírem da minha boca, e do meu lado uma intérprete, a única no grupo que falava espanhol. Ela foi traduzindo meu relato, e a cada pedaço traduzido os turistas se agitavam e faziam comentários entre eles. Comentários que eu nunca vou saber quais foram, rs. A outra foi afetiva: em um domingo à tarde recebi a visita da minha filha @veingartner.aline e do #meuchileno, que, juntos de um grupo de brasileiros, participaram do tour e escutaram atentamente a mãe-namorada-guia-sommelier falar sobre as belezas e delícias da Concha y Toro. Há dez anos eu e a Aline éramos as turistas eufóricas na vinha, e eu e o Edu acabávamos de nos conhecer. Nós três não imaginávamos quantas voltas nossas vidas iam dar até chegar naquele especial dia-tour.
Foi na Concha y Toro que realizei minha primeira cata como sommelier que sou: em formação. E essa oportunidade de trabalhar em uma das mais importantes vinhas do mundo me mostrou que eu posso tudo. Tudo o que eu decidir fazer com paixão e estudo.
Bete Veingartner | Abril de 2022